Sugestão de Leitura | Liderar com mundo. Voluntariado: Quando o dar se transforma em receber
Liderar com mundo. Voluntariado: Quando o dar se transforma em receber
Por Isabel Corte Real, voluntária da PWN Lisbon e directora de Marketing, Produto e Comunicação na Oásis Atlântico Hotels & Resorts
Uma reflexão focada nas empresas que incentivam os seus colaboradores a participar em actividades voluntárias e que, em contrapartida, podem ver alterações positivas nos índices de satisfação, um aumento no engajamento e na retenção de talentos dentro das equipas.
De acordo com o Decreto-Lei n.º 389/99, de 30 de Setembro, «o voluntariado é uma actividade inerente ao exercício de cidadania que se traduz numa relação solidária para com o próximo, participando, de forma livre e organizada, na solução dos problemas que afectam a sociedade em geral».
Para mim, e de forma elementar é uma oferta. Oferecemos um bem cada vez mais precioso – tempo. E oferecemos também de uma forma desprovida de qualquer interesse, só pela vontade de fazer a diferença, de ajudar.
Mas, na verdade, o voluntariado é mais do que doar tempo, é um acto de transformação mútua. Ao ajudarmos os outros, crescemos como pessoas e profissionais. Através da minha experiência, compreendi que pequenos gestos podem ter um impacto profundo, tanto na vida de quem recebe quanto na de quem dá.
Quando decidi abraçar os dois projectos de voluntariado aos quais estou ligada, não reflecti de forma profunda sobre o verdadeiro impacto que trariam à minha vida. Foram desafios que surgiram, projectos estruturados com missões e propósitos que me faziam sentido.
Passados nove anos de um e três anos do outro, consigo olhar de forma crítica e perceber que realmente vai muito para além do simples acto de aparecer e de contribuir.
O impacto pessoal do voluntariado
Participar em iniciativas de voluntariado não é apenas uma forma de retribuir à sociedade, é também uma oportunidade única de crescimento pessoal e profissional. Estudos indicam que o voluntariado desenvolve competências essenciais como empatia, resiliência e liderança.
Em Portugal, cerca de 7,8% da população com 15 anos ou mais está envolvida em actividades voluntárias (segundo dados do INE, 2018). Entre esses (e esperando que este número tenha, entretanto, crescido), o grupo com ensino superior apresenta uma taxa de participação significativamente maior, atingindo 15,1%. Este dado revela como o voluntariado se torna mais atractivo para aqueles que reconhecem o seu valor para o desenvolvimento de soft skills, mesmo que essa não seja a motivação para abraçar uma causa.
A minha experiência ensinou-me que, ao dedicarmos tempo a causas sociais, desenvolvemos uma perspectiva mais humanizada sobre a vida e o trabalho. Pequenos gestos que podem oferecer conforto a quem mais precisa, e que ao mesmo tempo que nos tornam profissionais mais sensíveis e conscientes. Além disso, muitas vezes, são estes pequenos gestos de voluntariado que dão também vida a actividades culturais, desportivas e de inclusão social.
O voluntariado no mundo corporativo
Já o voluntariado promovido dentro das organizações é uma estratégia que beneficia tanto a sociedade quanto as organizações. As empresas que incentivam os seus colaboradores a participar em actividades voluntárias observam aumentos na satisfação, no engajamento e na retenção de talentos.
Ao envolverem os colaboradores em projectos de impacto social, as empresas não apenas reforçam a sua imagem corporativa, mas também criam ambientes de trabalho mais colaborativos e positivos.
No caso da PWN Lisbon, por exemplo, falamos de uma organização que não se limita a promover o networking e a formação para a paridade de género, estimulando também os membros a actuarem em prol do desenvolvimento de mulheres em diversas áreas. Esta iniciativa não só capacita outras mulheres, como também fortalece as habilidades de comunicação e liderança dos próprios voluntários.
E já agora, uma curiosidade: de acordo com os mesmos dados do INE de 2018, a taxa de voluntariado feminina é superior à masculina (8,1% vs. 7,6%).
Como começar no voluntariado
Apesar do impacto positivo, muitas pessoas acreditam que não têm tempo para se dedicar ao voluntariado. Contudo, iniciativas flexíveis permitem que qualquer pessoa encontre uma forma de contribuir.
Algumas ideias para começar:
Identificar causas alinhadas com os valores: escolha um projecto que ressoe com a sua história pessoal ou profissional.
Começar pequeno: actividades pontuais podem ser uma boa porta de entrada.
Explorar oportunidades nas empresas: muitas organizações têm programas estruturados de voluntariado corporativo.
Ser voluntário é abrir espaço para a empatia e para o crescimento pessoal. É um convite a sair da nossa bolha e fazer a diferença. Pequenos gestos têm um poder transformador, tanto para quem recebe, mas sobretudo para quem oferece.
Sinto sempre que recebo muito mais do que dei. Sempre. E então, por onde vai começar a sua jornada de voluntariado?
Este artigo foi publicado na edição de Março (nº. 172) da Human Resources.
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