Sugestão de Leitura | Mudar a narrativa: inspirar pelo impacto e, não pelo esforço

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Published on November 12, 2025

Por Sandra Mateus, vice-presidente da PWN Lisbon, Public Sector Senior Industry Advisor, EMEA, Microsoft 

Quando comecei como voluntária na PWN Lisbon, tínhamos sete parcerias. Hoje, são mais de cinquenta. Ao longo deste percurso, e com muita ajuda de outros voluntários, conheci dezenas de pessoas, visitei empresas que não conhecia, estabeleci pontes entre pessoas e empresas e, sobretudo, contribui para impactar mulheres e organizações, ajudando-as a avançar na liderança e a construir um mundo mais inclusivo. Este crescimento não só ampliou a missão da PWN Lisbon, gerou impacto real em muitas mulheres que, com frequência, me dão conta desse impacto.

Por detrás deste caminho houve, naturalmente, muito trabalho, mas quando penso nestes últimos anos, escolho não dar protagonismo a esse esforço porque nada acrescenta ao impacto. Muitas vezes, talvez na tentativa de valorizar a nossa história, caímos na armadilha de exaltar a adversidade que superámos, como se isso fosse a medida do nosso valor, e ao fazê-lo descuramos aquilo que realmente importa, o resultado alcançado, a transformação gerada, o impacto que deixamos. Esta tendência é visível em muitos testemunhos de líderes, homens e mulheres, que continuam a contar as suas histórias com uma narrativa centrada no sacrifício, nas noites sem dormir, nas festas de escola perdidas e nas vidas pessoais deixadas para segundo plano. Histórias que, em vez de inspirar, afastam. A ideia de que sucesso exige abdicar da vida pessoal já não tem lugar. Os tempos mudaram e evoluímos para um modelo que valoriza equilíbrio, bem-estar e propósito.

As novas gerações confirmam esta mudança. Estudos como o Deloitte 2025 Global Gen Z and Millennial Survey mostram que apenas 6% dos jovens da geração Z colocam a liderança como prioridade. Procuram equilíbrio, desenvolvimento contínuo e significado no trabalho. Querem líderes que inspirem pelo impacto, não pelo sacrifício. E cabe-nos a nós, enquanto líderes, mudar a narrativa e o comportamento, mostrar que é possível atingir resultados sem glorificar a exaustão, que é possível liderar sem abdicar da vida pessoal.

Na minha opinião, esta mudança começa na forma como comunicamos e como lideramos. Quando falamos da nossa história, devemos dar protagonismo ao impacto e aos objetivos atingidos, não ao esforço extremo. É importante mostrar escolhas conscientes, aprendizagens e resultados concretos, em vez de listas de sacrifícios. Quando lideramos equipas, devemos evitar elogiar quem sacrifica a vida pessoal e, em vez disso, valorizar resultados sustentáveis, colaboração e inovação. Devemos ser exemplo, respeitar horários, promover descanso, desligar quando é tempo de desligar. E, acima de tudo, criar culturas organizacionais que reconheçam conquistas pelo impacto, não pelo número de horas trabalhadas. Esta mudança não é apenas uma questão de discurso, é uma questão de prática diária e de coerência.

Contar histórias que inspiram não é esconder a realidade, é escolher dar protagonismo ao que realmente importa, o objetivo atingido, o impacto gerado, à transformação que conseguimos criar. Só assim atrairemos talento, motivaremos equipas e construiremos organizações mais humanas e sustentáveis. A liderança do futuro não se mede pelo número de horas sacrificadas, mas pela capacidade de gerar impacto com equilíbrio e autenticidade.


Este artigo faz parte de uma parceria editorial estabelecida entre  PME Magazine Portugal.Mundo.Empresas e a PWN Lisbon.

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